Conecte-se Conosco

Negócios

Calçadistas fora da caixa

Publicado

em

Muitas vezes confundido apenas com estética, o Design abrange, sobretudo, funcionalidade. Além de trazer beleza, o produto precisa ser útil, transformar e facilitar a vida das pessoas. Com a missão de proteger e embelezar os pés, o design de calçados vem evoluindo de acordo com as necessidades do mercado. No Brasil, que possui a quarta principal indústria de calçados do planeta, a maior fora da Ásia, não é diferente. Favorecidos pelas facilidades de contar com uma cadeia produtiva completa e qualificada, produtores de calçados verde-amarelos são destaque no mundo quanto ao design e a moda autoral.

O presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, destaca que o design nacional de calçados é reconhecido internacionalmente. “O Brasil é um país privilegiado, pela criatividade do seu povo, pela alegria das cores e, no caso do calçado, por ter uma das cadeias produtivas mais completas e qualificadas do mundo. Aqui, encontramos desde a matéria-prima qualificada até o maquinário tecnológico necessários para a construção de produtos diferenciados”, avalia o executivo.

Ciao Mao

O design está em todos os nichos da produção brasileira de calçados. Um dos cases positivos e reconhecidos tanto no Brasil quanto além-fronteiras é o da Ciao Mao. Fundada em 2007 pela designer Priscila Callegari, a marca paulistana nasceu da inquietação de sua fundadora. Designer de formação, Priscila já havia trabalhado em diversas áreas do Design (design gráfico, comunicação visual, arquitetura promocional e criação publicitária). “Diferente da história da maioria dos criadores e marcas de empresas de calçados no Brasil, eu não nasci dentro de uma caixa de sapato e nem tenho formação acadêmica em moda. Apenas sempre me interessei por sapatos e como designer os enxergava como um objeto de design”, conta, ressaltando que sempre admirou modelos e marcas que, mesmo sendo criados há muitos anos, continuavam pertinentes por gerações.

Em 2005, quando começou a pensar na criação da Ciao Mao, Priscila lembra que não entendia na época o porquê do Brasil, sendo um polo industrial para marcas importantes de calçados do mundo, sempre buscava inspiração criativa em modelos europeus e norte-americanos. “Para entender essas e outras questões, fui estudar sapatos. Descobri o quão complexa era essa indústria. Centenas de processos, com grande impacto ambiental e social, muita energia despendida para a produção de um único par que, pelos preceitos da moda na época, iria durar apenas uma ou duas coleções”, conta. Foi a partir dessa necessidade, desse do mercado, que a designer criou o seu próprio negócio.

Atualmente com quatro pessoas para trabalhar no desenvolvimento e criação de calçados customizáveis e atemporais, a Ciao Mao conta com uma loja própria, e-commerce nacional e internacional e atacado para multimarcas. Para a criação, Priscila destaca que a equipe formou um “observatório de sinais”. “Analisamos ‘o espírito do tempo’, a performance dos nossos modelos, os comentários e desejos de nossos clientes, os novos materiais existentes no mercado, os materiais que sobraram de produções anteriores etc. Tudo tem que fazer sentido. Se não fizer sentido, não há por que produzir”, comenta.

Priscila destaca que, para a produção, a empresa conta com parceiros estratégicos e que estão em sinergia com o propósito da marca. Mesmo não trabalhando com grandes volumes — a empresa produz cerca de 400 pares mensais —, Priscila conta que os parceiros sempre foram “seduzidos” pelo projeto de produzir calçados diferenciados, com fôrmas que podem ser utilizadas para vários modelos, por serem customizáveis, e com sobras e materiais reaproveitáveis. Ou seja, calçados exclusivos e para um nicho específico, sem a pressão por grandes volumes. “Sempre salientamos que o mais importante seria produzir um produto de alta qualidade, com as melhores matérias-primas disponíveis no mercado e que o processo produtivo seria o mais justo possível, para o meio ambiente, para a indústria, para a mão de obra envolvida e para o consumidor final”, comenta. Matérias-primas que são responsáveis por grande parte do sucesso da empresa. “Como a atemporalidade é uma das nossas bandeiras, a qualidade, a durabilidade e o conforto são fundamentais. Procuramos trabalhar com materiais que melhor se adequem a cada modelo e damos preferência para fornecedores nacionais responsáveis, social e ambientalmente”, explica, acrescentando que na grande maioria dos modelos são utilizados couro mestiço e vacum, tecidos ecológicos e borracha reciclada.

Matuschka Mia

Criada em 2016, a partir da identificação de um gap no mercado de calçados, unindo qualidade, conforto e moda, com muitas estampas e cores para as pequenas, a Matuschka Mia, de São Paulo/SP, é outro sucesso verde-amarelo quando o assunto é design. Uma das sócias da empresa, Gabriela Matuschka, usou sua experiência como estilista de grandes marcas femininas e sua visão de mercado para unir beleza com conforto e qualidade, dois atributos do mercado infantil de calçados. Produzindo calçados com design para crianças, mas pensados para todos, a empresa apostou na moda adulta do animal print com matérias-primas nobres, do couro ao tecido, para atrair não somente o público de 1 a 10 anos, mas suas mamães.

Sócio da empresa, Rafael Matuschka uniu à expertise da irmã sua formação em Administração de Empresas e onegócio decolou. Desde 2016, segundo ele, a empresa vem dobrando seu tamanho a cada ano. Inclusive em 2020, enquanto muitas empresas sofreram por conta da pandemia, a marca cresceu mais de 100%. Além do design diferenciado, estratégias que apostam na força do e-commerce e a criação de uma linha para as mamães, em 2019, foram fundamentais para a performance da marca. “Todos os nossos produtos eram pensados para atrair a mãe da criança, então pensamos em fazer uma linha também para esse público. Ampliamos a mesma grade até o 39 e estamos tendo ótimos
resultados”, conta Rafael.

Com produção terceirizada, a Matuschka Mia preza pela criação de um produto exclusivo e não determinado por estações do ano. “Atualmente temos dez pessoas trabalhando apenas para a criação, desenvolvimento e marketing. Realizamos pesquisas de tendências, de mercado, mas sempre damos um toque próprio para as criações”, conta Rafael, destacando que a empresa utiliza plataformas como Pinterest, Instagram, WGSM e as próprias consumidoras, que trazem feedbacks importantes — e atentamente ouvidos — para os desenvolvimentos. Identificando mais uma oportunidade de mercado, há cerca de dois meses a marca lançou uma coleção cápsula de vestuário, trazendo o mesmo mote de criação do calçado, com muito conforto e animal print, visando a criação de looks completos para as mamães e as filhas. “O produto está sendo muito bem recebido e provavelmente manteremos a criação”, adianta Rafael.

O design diferenciado da Matuschka Mia atraiu compradores internacionais. Rafael conta que a empresa optou por participar da plataforma digital BLANC Fashion em 2020, em parceria com o Brazilian Footwear. Renovando a participação para a próxima edição, a empresa foi procurada por compradores internacionais, especialmente dos Estados Unidos, e foi convidada a participar de um evento físico em Londres, ocorrido mês passado. “Já estamos trabalhando nos Estados Unidos e iniciando na Europa”, comemora.

Fabrès

Desde 2013, a Fabrès, de São Paulo/SP, está no mercado com aposta no design de luxo em bolsas e calçados. Todos produzidos com couros exóticos sustentáveis, a empresa trabalha com sapatos em cabedais e solados de couro, com exceção dos tênis e alpargatas, que possuem solados de borracha sintética. As pesquisas para desenvolvimento são realizadas por meio de fotos de moda do passado, trazendo memórias afetivas para as consumidoras, somando a essas tendências internacionais, das artes e da natureza. Como a empresa trabalha com parceiros, existe ainda um cuidado muito grande para a escolha de ateliês capacitados para a produção de bolsas e calçados com couros exóticos, que são diferentes do vacum.

Em lojas multimarcas e e-commerce, a empresa sofreu com a crise da Covid no ano passado e busca organizar uma retomada. A proprietária da empresa, Célia Fabris, conta que existe um grande mercado de luxo no Brasil, mas que foi abalado pela crise do ano passado, especialmente diante das restrições impostas ao varejo físico, onde se dá grande parte das vendas para esse nicho de produto. Além disso, Célia avalia que, com a pandemia, as pessoas diminuíram o consumo de produtos de luxo em geral. “Vai demorar um pouco para sabermos para onde vamos e como vamos chegar lá. Está sendo bastante difícill”, conta, ressaltando que se houver recuperação dos níveis pré pandemia será em 2022.

Adriana Farina

O bordado faz parte da vida da empreendedora paulista Adriana Farina desde pequena. E foi a partir dessa atividade criativa que a marca homônima foi lançada em 2019. Os calçados assinados têm o como o grande destaque das composições. E é justamente, a partir dos bordados e desse trabalho artesanal que se inicia a criação de cada modelo de uma coleção. Como joias, os modelos de calçados da marca utilizam desde técnicas de bordados,  (artesanato com contas/miçangas), crochê, entre outros. “A Adriana Farina foi criada a partir de um autoquestionamento de como incorporar o bordado para o calçado. E mostrei algumas criações, o que eu sabia fazer para uma consultora e ela me aconselhou a seguir nesse caminho”, conta a fundadora Adriana, ao dizer que tem uma ligação muito forte com o design italiano.

Uma das premissas levadas em consideração durante o processo criativo das suas coleções é que o calçado precisa ser mais perene. “Um sapato de alto valor agregado com esse trabalho artesanal bem elaborado como o meu, não pode ser apenas de moda, para uma temporada”, pontua a paulista, ao dizer que entre os materiais utilizados nas suas coleções estão as miçangas japonesas e tchecas, cristais facetados e redondos, fios criativos e ráfia natural.

Para o desenvolvimento das coleções, Adriana escolhe uma temática e inicia a criação dos bordados que representem elementos contidos neste tema. “Sempre vou buscar algo no mundo que me dê inspiração. Por exemplo, na minha segunda coleção estava pensando em algo que voa e desenvolvi uma homenagem à Itália nominando a coleção de Volare. Nos modelos, utilizei borboletas, libélulas e flor de dente de leão”, fala, ao explicar que toda a criação é feita em São Paulo. Após a confecção do “bordado piloto”, Adriana reúne a equipe de bordadeiras treinadas por ela, que é composta por cerca de 15 pessoas, para o desenvolvimento dos bordados. Com os bordados concluídos, eles são enviados para o Rio Grande do Sul, onde os ateliês terceirizados em Sapiranga e Igrejinha aplicam e costuram esse bordado nos calçados. Um bordado mais complexo pode demorar um dia e meio para ser finalizado. Já um mais simples, pode ser feito em uma média de 54 pares por dia. “Todo trabalho tem que ter uma base de pesquisa, não copio modelo, mas consigo analisar o que eu gosto de construção. E toda a composição depende da criação do bordado”, destaca Adriana, ao dizer que torce para que o trabalho manual seja cada vez mais valorizado porque ele é uma forma de alavancar o poder econômico de uma parcela da população, além de valorizar a criatividade dos brasileiros.

Paula Torres

Formada em Direito, a mineira Paula Torres conheceu ainda na faculdade uma empreendedora que gostaria de abrir uma loja multimarca de calçados. E foi por causa dessa loja no Rio de Janeiro que a fundadora da marca Paula Torres começou a se interessar sobre o processo de criação e fabricação do calçado para poder responder aos questionamentos de seus clientes. “Me apaixonei tanto pelo processo de criação e fabricação que aquele ambiente de varejo não me interessava mais. Me mudei para Sapiranga para aprender ainda mais e comecei a desenvolver coleções”, conta Paula, ao lembrar que no início, como ela não tinha mais a loja, alugou um espaço no Rio de Janeiro para mostrar suas criações para outras marcas da moda brasileira.

Em 2011, iniciou o desenvolvimento da marca Paula Torres. “No início do negócio a área de estilo era somente eu. E, aos poucos, junto com o crescimento da empresa, fomos aumentando. Atualmente, temos quatro pessoas na unidade de estilo e eu fico em uma posição mais gerencial”, conta, ao dizer que a empresa tem cerca de 60 colaboradores, entre estilo, administrativo e logística, e a fabricação dos calçados. Com relação ao desenvolvimento dos modelos, Paula destaca que tinha por hábito estar presente junto com parte da sua equipe em todas as semanas de moda porque as cidades respiram moda nesse período. “Gosto de ir em museus e lojas. As inspirações vem de um estalo, ela não vai vir de um desfile, mas de uma planta, um objeto. Gosto sempre de contar uma história e como desenvolvo uma moda autoral procuro seguir uma macro tendência aliada a estilos que as mulheres querem, com o DNA da Paula Torres, que também tem presente a cultura brasileira.”

Em suas coleções, a mineira utiliza matérias-primas verde-amarelas e preza muito pela qualidade e acabamento. Materiais como couro de cabra, pelica e tecidos são utilizados em seus modelos, assim como garrafas pets, por exemplo, nas coleções sustentáveis que ela está desenvolvendo. Com a fabricação de 40 a 50 mil pares por coleção, totalizando aproximadamente 100 mil pares/ano, a marca Paula Torres está crescendo. O e-commerce, que hoje responde por 40% do faturamento, explodiu nos dois últimos anos e o número de lojas, que hoje é de oito, vai aumentar até o fim do ano. Além disso, o e-commerce internacional também está entregando para o mundo inteiro. “O design brasileiro é muito rico e temos que cuidar para não perdermos ele. Além disso, saber colocar o DNA de cada marca nos modelos é algo imprescindível.

 

Fonte: Abicalçados

Foto: Divulgação/Abicalçados

Clique aqui e faça parte de nosso grupo de whatsapp

Clique aqui e siga-nos no instagram

Clique aqui e siga-nos no facebook

JORNAL O POPULAR – A NOTÍCIA COM DEVE SER

Publicidade
Publicidade

Política