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Política

Grupo de deputados do PL tenta se descolar da extrema direita

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Domingos Sávio minimizou a existência de grupos com pensamentos diferentes no PL — Foto: Luis Macedo / Câmara dos Deputados - 15.12.2016

Movimento contaria com cerca de um terço dos 99 parlamentares do partido de oposição na Câmara

Um grupo de deputados federais do PL, principal legenda de oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), busca fugir das “pautas ideológicas” e defende diálogo com o Executivo. O próprio PL admite, internamente, que há “duas bancadas” no partido: uma que seria mais ao centro e prega conversas com o governo federal, e outra que pretende se manter puramente na oposição. Com informações de O Tempo.

Conforme apurado pela reportagem, ambos os grupos são bem aceitos dentro do partido e são amparados por Valdemar Costa Neto, presidente nacional da sigla.

A ala de centro-direita, que abarca cerca de um terço dos 99 parlamentares, luta contra o que considera ser “o grupo do TikTok”, como citou um deles sob anonimato, em referência, por exemplo, aos deputados Nikolas Ferreira, Carla Zambelli, Eduardo Bolsonaro e Carlos Jordy, que costumam usar as redes sociais para amplificar a atuação política.

Como descrito por um parlamentar, que não quis se identificar, estar contra Lula, especialmente em pautas consideradas pragmáticas, como o arcabouço fiscal, que teve um terço do partido votando a favor, seria “canibalismo político”. A votação, que teve apoio de 30 dos 99 deputados federais do PL, foi um dos símbolos do movimento intrapartidário.

Atualmente, a divisão não é tratada como um problema dentro do partido, mas “os conflitos se darão na montagem dos palanques”, como apontou um assessor do partido à reportagem. “Se houver conflitos, o comando da sigla arbitra”, acrescentou ele, que não quis ser identificado. Apesar do movimento, há um esforço público de lideranças da legenda de ressaltar que não existem “dois PLs” no Brasil.

A tese é defendida pelo vice-líder da bancada na Câmara, deputado Domingos Sávio. Ele argumenta que o partido é, essencialmente, unido pela doutrina liberal. O discurso também foi entoado pelo presidente da sigla em Minas, Zé Santana, que defendeu, aquém de discordâncias, haver apenas um partido – e que dissidências de posturas entre os deputados é algo natural na política.

Boas ideias

Sávio afirma que “as posturas podem ser diferentes”, contudo, disse que não há divisão na legenda. Na mesma fala, ele ressaltou que, mesmo sendo “contra o PT”, o partido continua “a favor do Brasil” e admitiu que não haveria problema de parlamentares apoiarem “boas ideias” vindas do Executivo.

“O PL não é de extrema direita, é um partido liberal, que prega o diálogo”, reforça. Em nota enviada após a votação do arcabouço fiscal, que recebeu apoio dos mineiros Domingos Sávio, Samuel Viana e Rosângela Reis, todos do PL, o vice-líder da bancada pregou “oposição consciente ao governo” e que não seria “oposição ao país”.

As declarações de Domingos Sávio e Zé Santana foram dadas dias após reorganização interna da executiva estadual do PL ter sido divulgada ().

“O que ocorre (e que não é só com o PL): 99 deputados não vão ser clones, com a mesma linha de atuação. Todos os partidos que passam de 40, 30 deputados, têm isso. Quando há uma pauta que é ligada ao princípio do PL, damos uma direção aos parlamentares. Quando é algo aberto, liberamos a pauta para votação individual. Isso é da vida democrática partidária. Não há cordeirinhos obedecendo”, defende Domingos Sávio.

Sobre deputados com alta atuação nas redes, que cobram os colegas, o vice-líder admitiu que houve uma conversa interna para tratar do assunto. “Admito, vivemos conflitos internos, assim como qualquer outro partido, com essas polêmicas de rede social. É desagradável quando algum colega fica estimulando isso, mas é uma página virada”, pondera.

Movimento para se afastar da chamada “ala mais radical”

Parlamentares que defendem que há um movimento dentro do PL de “caminhar à centro-direita”, ressaltam a vontade de distanciamento de figuras consideradas mais “radicais”. “Não é querer estar 100% com o governo, principalmente em pautas como aborto, ‘ideologia de gênero’ etc., mas ter a liberdade de dialogar”, definiu um deputado.

Esses parlamentares buscam cisão com alas consideradas mais radicalizadas do partido, que, inclusive, os “cobram publicamente, nas redes sociais”, completo distanciamento com o Executivo. “Quem não aceita o diálogo são os radicais, e isso, inclusive, causa um mal-estar com quem busca conversar com o governo. Ninguém veio ao meu gabinete falar contra o arcabouço, mas questionaram minha posição nas redes.

Questionar o governo apenas por estar na oposição, sem analisar a pauta, é canibalismo político neste momento”, exemplifica um deputado federal, que preferiu não ser identificado.

Duas fontes disseram à reportagem, em anonimato, que o movimento dos “dissidentes do radicalismo” do PL chega a um terço da sigla a nível nacional. “Estou observando que, dentro do partido, ao menos um terço dos 99 está tentando o diálogo com o governo”, disserta um dos parlamentares.

O papel desses deputados remonta às antigas raízes da legenda, que historicamente compôs o “centrão”, especialmente na centro-direita, até que se tornou casa do bolsonarismo quando o ex-presidente Jair Bolsonaro, no fim de 2021, se filiou.

A negativa do partido sobre os dissidentes, conforme uma das fontes pontuou, faz parte do “medo da direita demonstrar desunião”. “Essa é a roupagem estratégica. Quando falam que o PL vai respeitar a individualidade é uma coisa para garantir que ‘estamos unidos’. Mas, entre todos, há um incômodo enorme com os radicais”, disse.

Nikolas foi procurado pela reportagem por telefone e por mensagens, mas não havia respondido até o fechamento. Zambelli, Eduardo Bolsonaro e Jordy não foram localizados.

Mudanças na executiva em Minas Gerais

Atual presidente do Partido Liberal (PL) em Minas Gerais, o ex-deputado federal Zé Santana vai deixar o cargo nos próximos 15 dias, e o deputado federal Domingos Sávio assumirá o comando da legenda no Estado. A informação foi confirmada a O TEMPO por ambos.

Santana será nomeado presidente de honra do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, por Valdemar da Costa Neto, mandatário nacional da sigla.

Além de Domingos Sávio no comando, os deputados estaduais Delegada Sheila e Bruno Engler e federais Rosângela Reis e Marcelo Álvaro Antônio devem assumir cargos na executiva do PL.

Delegada Sheila e Rosângela Reis, de acordo com Santana, trabalharão prestando auxilio à presidência do partido, enquanto o ex-ministro do Turismo de Jair Bolsonaro e Bruno Engler devem atuar na vice-presidência.

Além deles, os deputados federais Zé Vitor e Lincoln Portela devem assumir cargos de tesoureiros da legenda em Minas Gerais.

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