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Cidadania

Diagnóstico de câncer de mama é tardio em 40% das mulheres

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Um terço das mulheres diagnosticas com câncer de mama no Brasil em 2019 têm menos de 50 anos. Mesmo com uma prevalência tão alta entre as mais jovens, o Sistema Único de Saúde (SUS) tem como regra a realização de mamografias a cada dois anos apenas nas cinquentenárias.

O protocolo é criticado por associações médicas e especialistas, que defendem o rastreamento a partir dos 40 anos. A principal justificativa seria a redução na chance de morte em até 98% para aquelas que começam a se tratar precocemente.

O que ocorre é que o Ministério da Saúde segue o mesmo padrão adotado no Reino Unido, na Bélgica, na Suíça e em outros países europeus. Na prática, as mulheres realizam o exame a cada dois anos dos 50 aos 69 anos.

O órgão se baseia no fato de ser a faixa etária com maior incidência de câncer de mama. Tomando 2019 como exemplo, 27% dos casos se concentravam entre pessoas com essa idade.

Porém, entidades como a Sociedade Brasileira de Mastologia e a Associação Mineira de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig) discordam da política diagnóstica adotada no país.

“Nós temos a chamada fase pré-clínica, que é quando identificamos o câncer antes dele se manifestar, e a fase clínica, que é quando os sintomas começam a surgir. A mamografia é importante porque ela permite que encontremos a doença na fase pré-clínica. Mas não temos no Brasil um sistema organizado de rastreamento mamográfico e isso impede que os diagnósticos aconteçam precocemente”, afirma o presidente do comitê de Mastologia da Sogimig e coordenador do setor de mastologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Clécio Enio Murta de Lucena.

Ainda segundo o especialista, a descoberta de um câncer na fase inicial com até 2 centímetros de tamanho pode garantir uma possibilidade de sobrevivência de 98%. “Além de a chance de cura ser maior, o tratamento é menos agressivo”, explica.

Segundo dados copilados pelo Observatório de Oncologia, o diagnóstico de câncer de mama é tardio em cerca de 40% dos casos no Brasil. Situação que é ainda mais grave em se tratando de mulheres negras.

Se de um lado, 43% dos diagnósticos de brancas acometidas pela doença ocorreram tardiamente e 28% precocemente, no caso das negras e pardas a descoberta em quadros mais avançados foi em 52% dos casos e em apenas 19% o diagnóstico foi no início da doença.

Segundo Clécio, isso ocorre por uma questão social. “O câncer de mama é mais prevalente em brancas, mas, por outro lado, por questões socioeconômicas, as negras têm mais dificuldade de conseguir o diagnóstico. E isso ocorre porque infelizmente é uma camada da população mais carente, com mais dificuldade de acesso ao sistema de saúde”, explica.

Para o especialista, uma mudança no protocolo diagnóstico no país se torna urgente, principalmente em função do aumento dos casos de câncer de mama no país. Segundo ele, a maior ocorrência da doença se justifica por vários fatores.

O primeiro deles é a maior expectativa de vida da população, já que a doença tende a acometer mais as pessoas com mais idade.

O segundo motivo é comportamental. É que as mulheres têm consumido mais bebida alcoólica, ingerido alimentos mais calóricos e adiado a maternidade. Pesquisas indicam uma redução no risco de ter câncer de mama entre as mulheres que amamentam por mais tempo.

Procurado, o Ministério da Saúde não comentou se há possibilidade de mudança na política diagnóstica adotada. Entretanto, informou que “o início do tratamento do câncer de mama para pacientes que procuram atendimento no SUS está mais ágil.

Dados de janeiro e julho de 2020 mostram que, em 99,57% dos casos atendidos, o tempo entre o diagnóstico e o tratamento do carcinoma in situ, estágio inicial do câncer de mama, foi de até 30 dias. No mesmo período de 2019, isso aconteceu em 99,16% dos casos.

Em 75,54% dos atendimentos, o tempo de até 60 dias entre o diagnóstico e o tratamento em todos os estágios do câncer de mama no SUS foi respeitado”.

Na quarta-feira passada (7), o governo federal lançou a campanha do Outubro Rosa de 2020, que neste ano tem o slogan “Cuidado com as mamas, carinho com seu corpo”. A ideia é conscientizar as mulheres sobre a importância da prevenção e do diagnostico precoce do câncer de mama.

Fonte: Por Tatiana Lagoa –  O Tempo

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