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EMPREENDEDORISMO

Sem dinheiro para comprar veículo, cafeicultor constrói seu próprio trator

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Quando tinha cinco anos, o cafeicultor Adriano Soares dos Reis ganhou de presente da mãe um trator de brinquedo, branco e azul, que puxava uma carretinha. O mimo nunca saiu da sua lembrança. Hoje, aos 32, ele mora e trabalha com o pai, Carlos Antônio dos Reis, numa propriedade arrendada na zona rural de Piumhi e se orgulha de ter reproduzido, com as próprias mãos, o presente materno que mais marcou sua infância. As informações são da Itatiaia.

Adriano frequentou a escola até a 8ª série e na fazenda onde mora não tem sinal de internet. “Só se a gente subir no alto de um morro, consegue uma conexãozinha”, diz. Mas sempre gostou de carros e tinha curiosidade em saber como funcionavam. Assim, quando o velho Massey Ferguson do pai parou de funcionar por falta de manutenção, Adriano dissecou a máquina, peça por peça, juntou com outras, fez fundições e montou seu primeiro protótipo de trator.

Na época, ele tinha acabado de completar vinte anos e sua invencionice não deu muito certo. Ele conta que ficou até “bem montadinho”, mas o motor era fraco e o veículo não tinha muita funcionalidade. O cafeicultor não se deu por vencido. Durante dez anos, frequentou ferros-velhos em busca de peças, comprou outras quando sobrava um dinheirinho, pegou algumas do velho Chevette da família e também de uma moto esquecida num canto. Sempre que sobrava um tempo, ao final da ‘panha’ do café ou da ordenha das poucas vacas da família, ele trabalhava em seu projeto particular.

Esse mês, Adriano finalmente concluiu sua empreitada: um trator com lataria vermelha, motor forte e peças artesanais: o volante, as barras da direção e a caixa de marcha foram produzidos usando-se apenas uma máquina de solda, uma esmerilhadeira (para serrar ferros) e uma furadeira. Ele calcula que tenha gastado em torno de R$ 7 mil, enquanto um novo na concessionária sairia por cerca de R$ 40 mil. “Eu acho que valeu a pena. É difícil descrever minha alegria quando saí dirigindo pela primeira vez. A sensação foi de felicidade, de liberdade, sei lá… de vitória, talvez. Fiquei orgulhoso de mim mesmo”, revelou.

No dia a dia da fazenda, a invenção de Adriano ajuda na pulverização e limpeza da lavoura (quando se acopla uma lâmina na parte dianteira) e no transporte de insumos e materiais. Ele e o pai colheram, esse ano, apenas vinte sacas de café que foram negociadas junto à cooperativa local. O leite obtido da ordenha das vacas na propriedade dá apenas para consumo próprio e o sonho deles é adquirir uma terra própria, mais perto da cidade.

Perguntado se gostaria de trabalhar numa montadora de veículos, ele desconversa. “Não dou conta de morar na cidade. Gosto demais do sossego da roça, do silêncio e dos animais”. Mas em seguida volta atrás, dizendo que se fosse para ter, ele próprio, uma pequena montadora de máquinas agrícolas, até que consideraria a possibilidade.

Enquanto isso, um terceiro trator já está quase pronto. Adriano diz que esse será ainda melhor: com roda de caminhão, partida com chave, farol de freio, luzes traseiras, acabamento “mais próximo dos tratores que a gente vê nas concessionárias” e, claro, não pode faltar o guincho para puxar uma carretinha tal e qual o trator de brinquedo, azul e branco, presente da mãe que originou toda essa história.

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