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O razoável e a rinha de galos

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Houve um tempo em que ser uma pessoa razoável era visto por muitos como uma denominação pejorativa. Razoável era tido como “meio bom” e, portanto, de alguma forma, seria menos em relação a “outro”.

Num país cada vez mais polarizado, dividido entre “nós ou eles”, o indivíduo razoável é a parte sensata de fato. Todo polo, negativo ou positivo, direita ou esquerda, é extremo. Todo, na sua essência.

Por ser assim, se endurece nas suas convicções. Radicaliza. Não combina e repele outras forças. Não tem convergência em interesses que não possam ser os seus. Empaca no próprio entendimento e com um ponto de vista apenas, como já sabemos, não se evolui.

Daí a necessidade do razoável. Do que é flexível e cede nos momentos adequados. Não por pressão, mas por acreditar que, se não houver este ato, de ceder, todo o resto rompe e nesse caso os prejuízos são de todos.

Se antes, logo no começo da pandemia do coronavírus, a divisão era entre economia x vida, o argumento agora ganhou um viés político entre os que defendem Bolsonaro e os que seriam “oposição” a ele. Nesse embate, tanto a economia como a vida saem perdendo por falta de medidas eficazes que as protejam.

Nem tudo deve ser encarado como um Cruzeiro e Atlético ou um Fla-Flu. Ao contrário de mim ou de você, o vírus não tem viés ideológico. Contamina ou mata a todos de forma indistinta.

O indivíduo razoável, que nesse caso sempre será mais do que qualquer extremo, tende a ser lúcido. Vê que por trás desse jogo entre “nós e eles” têm uns que ganham e a maioria que perde, e quem perde é mero repetidor das ações dos que instigam para ganhar. Uma rinha de galos. Ganha quem está fora da arena e não se machuca. Mas fatura com as apostas.

A racionalidade em meio a essa crise é o que fará diferença. Seja nas Américas ou na Europa, não nos chegam registros de países que tenham essa particularidade apresentada no Brasil. E, por causa dela, as coisas aqui têm se tornado tão difícil e chamam a atenção do mundo.

A passionalidade nas discussões, sem entender o todo e o outro, inflama o país que já está doente. Enquanto não for estabilizada a relação entre “nós ou eles” e o discurso não for menos incendiário e, sim, mais harmonioso, pouca coisa mudará de fato.

Não é só por causa da pandemia e não é só por causa do Bolsonaro. A situação vem de mais tempo e agora parece chegar próxima do seu ápice. O Brasil, que já era bastante heterogêneo, se dividiu ainda mais na última década e são vários os atores responsáveis por esse processo.

O otimista sempre vai defender que os momentos de crise são propícios para reformulações e alteração de rumos. Talvez este momento, em que as vísceras estão expostas, seja a oportunidade de ver o Brasil com maior clareza e a partir daqui propor novos rumos.

Sim, é um momento ímpar em que os principais “players” estão jogando suas fichas. Governo federal, Congresso, Justiça/STF, mercado, imprensa, governos, dentre outros. E no meio disso tudo tem o povo. A turma do “nós ou eles” e, é claro, o razoável.

Ele está sempre aí, de lanterna na mão, tentando ver em meio a tanta bagunça.

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