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Inflação alta leva consumidor a fazer compras em ‘atacarejos’

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A inflação de quase 3% nos setores de alimentos e bebidas e artigos residenciais em março no Brasil, medida no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), altera o hábito de consumo das famílias e impõe ainda mais cuidado na hora das compras do mês. Com os preços em alta, além da redução no volume e da troca de produtos praticada por consumidores, uma opção que tem se mostrado viável economicamente à população é o “atacarejo”. As informações são do Jornal O Tempo.

Pesquisa da Nielsen IQ aponta que o valor médio de compras em estabelecimentos desse tipo no Brasil cresceu 23,2% em 2021 se comparado com 2020. Por outro lado, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) contabilizou uma redução de 21% nas vendas em janeiro deste ano.

Na Grande BH, atualmente, há ao menos seis grandes redes que comercializam produtos no atacado e no varejo. Quem escolhe fazer as compras nesses estabelecimentos garante que os descontos são relevantes. O gestor Ernando Martins, 43, calcula que seus gastos com supermercado cresceram cerca de 100% nos últimos meses.

“Geralmente compro nos ‘atacarejos’, que têm condição um pouco melhores. Eles ficam mais distantes, mas vale a pena esse deslocamento para uma compra em quantidade maior para garantir os preços”, conta. Martins diz que as compras de produtos não perecíveis e de limpeza estão sendo feitas em maior quantidade para aproveitar ofertas.

Profissional autônomo, Edivaldo Bicalho, 39, relata que a pesquisa deve ser diária para encontrar bons preços. “Você vem em uma semana, e na outra está mais caro”, reclama. Ele diz que sentiu mais o peso no valor das carnes.

Segundo o diretor comercial e de marketing do Mart Minas, Filipe Martins, a popularização do “atacarejo” é observada no volume de vendas. “Estamos crescendo 30% anualmente há mais de dez anos. Hoje a gente atua nas principais regiões do Estado”, conta. Com o crescimento, a rede, com 51 lojas em Minas, projeta abrir mais dez unidades neste ano e chegar a 75 estabelecimentos até 2025.

“O ‘atacarejo’ caiu no gosto do consumidor pela vantagem econômica que oferece. Além disso, ficou mais acessível, e as lojas estão com um mix de produtos de cerca de 10 mil itens”, contabiliza.

Risco de perdas

Para o economista e professor da Estácio Ivan de Melo Nogueira, a escolha do “atacarejo” na hora das compras é viável, desde que seja possível obter descontos. “O melhor é sempre fazer uma boa pesquisa para visualizar os benefícios”, diz.

O especialista lembra as boas condições para compras em grandes quantidades, mas alerta que é preciso atentar ao que se leva para casa a fim de evitar perda financeira e de mercadorias. “É quase uma volta à década de 80 em que tínhamos dispensas, produtos estocados. Os itens de limpeza, por exemplo, podem ser boa alternativa”, analisa.

Uma importante dica é evitar o uso em larga escala do cartão de crédito, do cheque especial e do empréstimo para fazer as compras do mês. Segundo Nogueira, o uso em escala maior do crediário pode elevar o endividamento no país, que já atinge 65 milhões de pessoas. “Vejo o cartão de crédito como o grande vilão. Muita gente migra para o cartão quando acaba o salário, mas esquece que a conta chega”, explica Nogueira.

Um dos fatores de atenção na hora de recorrer ao crediário neste momento é a taxa básica de juros, a Selic, alçada em 11,75% pelo Banco Central. “Em uma taxa de juros dessa magnitude, a compra a prazo fica cada vez menos recomendada”, aconselha Mauro Rochlin, economista e professor da Fundação Getulio Vargas.

REALIDADE DIFERENTE NO PRÉ-REAL

Mesmo sendo a pior inflação para o mês de março desde a implantação do Plano Real, o arrocho econômico observado no Brasil, atualmente, está longe de ter semelhança com a situação enfrentada antes da estabilização da moeda brasileira, dizem os especialistas.

“Quando a gente viveu o momento pré-real, houve a hiperinflação. Era uma realidade acompanhada de inflações mensais de 20% a 30% e hoje, mensalmente, está em torno de 1% (1,62% março). Em termos de intensidade e magnitude, não se compara com o que aconteceu no passado”, afirma o professor Mauro Rochlin.

Para ele, a elevação da Selic, medida em vigor no país desde o ano passado, é uma das opções para controlar a inflação e deve ter um efeito mais prático a partir do controle dos preços de commodities no mercado internacional.

O docente também elenca o corte de gastos institucionais dos governos como uma saída ao problema dos preços altos.

“Historicamente, em períodos de eleições, governos federal e estaduais acabam gastando mais como forma de turbinar e se cacifar eleitoralmente. Isso pode se materializar em aumentos para o funcionalismo, obras públicas, subsídios, e isso acaba contribuindo para aumentar os indicadores”, detalha Rochlin.

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